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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Criminosos e moradores de rua transformam a Praça do Museu em "pousada a céu aberto"




Era por volta das 8h de ontem - plena luz do dia - quando um rapaz teve a bicicleta roubada na praça Antônio Gomes, popular "Praça do Museu". Minutos depois, uma viatura da Polícia Civil passou pelo local: nem sequer percebeu o crime. Fatos como este passaram a ser cotidianos em quase toda a cidade, mas há um agravante no lugar mencionado. Os delinquentes são figuras conhecidas da vizinhança e, segundo relatos, também dos policiais. Apesar do perigo que oferecem, transformaram a praça numa "pousada a céu aberto", numa expressão usada por um dos moradores, e praticamente dominam aquela parte da cidade.
"Eles moram aí mesmo. Isso já faz pelo menos dois anos. Não só dormem e se encontram aqui, como também usam um poço d'água da praça para tomar banho, ficam pelados, fazem até sexo. Tudo isso em plena luz do dia, e a céu aberto. É realmente uma verdadeira pousada", relata um dos moradores da Avenida Dix-sept Rosado, em frente à praça. Por segurança, todas as pessoas procuradas pela equipe do O Mossoroense preferiram não se identificar. O temor é comum a praticamente todo mundo que mora ou trabalha naquela redondeza, em pleno Centro da cidade.
Residente da Dix-sept Rosado há pouco mais de um ano, uma esteticista conta que, logo depois de se mudar para uma casa em frente à praça, tentou fazer um abaixo-assinado a ser entregue na Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM). A intenção era cobrar maior segurança para o bairro. A empreitada, no entanto, foi desestimulada pelos próprios vizinhos. "As pessoas ficaram com medo de assinar, porque disseram que esses moradores de rua são altamente perigosos. Como a polícia é muito ineficaz, os moradores tiveram medo de serem alvos de vingança", revela.
"Assim que eu cheguei aqui, minha filha foi assaltada. Foram as minhas boas-vindas", ironiza a mulher. Ela diz ainda que, mesmo assim, chegou a procurar a polícia várias vezes. "Pedi a eles uma medida de precaução, que fizessem alguma coisa para melhorar a situação naquela praça. Eles me disseram que só poderiam ser chamados se alguma coisa factual - como um assalto ou uma agressão - realmente acontecesse. Quer dizer, eu, como cidadã, não posso mais me precaver?".
História semelhante ocorreu com uma moça que trabalha ao lado do prédio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). "Num dia de muitos assaltos na praça, liguei para que a polícia pedisse à viatura para circular por aqui para me acompanhar até a parada de ônibus. O guarda me disse que eu só ligasse se acontecesse alguma coisa". Por causa disso, os funcionários da loja em que ela trabalha fizeram um acordo com o patrão: chegam mais cedo para saírem mais cedo. "Só assim mesmo para melhorar".
A maioria dos comerciantes, diferentemente da vizinhança, não teve maiores problemas com os "moradores da praça". Alguns deles levam alimentação e tentam ajudar aquelas pessoas. Mesmo assim, contudo, afirmam que é preciso ter cuidado e confirmam ter conhecimento do perigo que a situação oferece. "Eu, especificamente, nunca tive problemas. Ajudo, trago comida. Mas claro que não posso descuidar e claro também que tenho conhecimento dos assaltos", diz uma vendedora.
Para a mais antiga "moradora da praça", cuja identidade será preservada, as pessoas que usam o local público como residência não oferecem perigo para a população. "A gente aqui é da paz, a galera gosta da gente. O que rola, na verdade, é muito preconceito", opina. A ela, as outras pessoas do grupo chamam "chefe". Apesar de sua declaração, esta moça é, segundo a vizinhança, a pessoa mais perigosa do local. "Ela só anda armada, guarda um canivete dentro da calcinha", diz um lavador de carros. Outras pessoas da vizinhança também relatam o porte de armas da mulher.
O titular da Guarda Civil de Mossoró, Osnildo Morais, tomou conhecimento da situação por intermédio da equipe de reportagem. Decidiu tomar uma providência após a ligação do O Mossoroense à sua secretaria. "Irei tomar providência, provavelmente em conjunto com a Secretaria de Assistência Social, para ver o que podemos fazer com essas pessoas. Mas, de qualquer forma, adianto que a polícia tem o dever de fazer também um trabalho preventivo. Os guardas que negaram o serviço agiram de forma errada", diz. 

Jornal O Mossoroense

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