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terça-feira, 16 de agosto de 2011

SIRO DARLAN: "DO INSULTO À INJÚRIA"
(Referente a Morte da Juíza Patrícia Acioli) -  Vale a pena Ler.
 
Pouco mais de 24 horas se passaram desde que a juíza Patrícia Lourival Acioli foi chacinada. Quando se pensava que a covardia desse ato ficaria restrita a ele próprio — um insulto em forma de cusparada de sangue na cara do País —, se vê a ele somada a injúria da empáfia das autoridades públicas, especialmente as do Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

O atual presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro se apressa em justificar o injustificável: o motivo para uma juíza que até as paredes do Fórum de São Gonçalo sabiam ameaçada de morte estar completamente à mercê de seus matadores é singelo: ela não requisitara proteção, por ofício. Não obstante, sem ofício, ou melhor, de ofício, sua segurança, conforme avaliação (feita por quem? com base em que critérios?) do próprio tribunal, havia minguado na proporção inversa do perigo a que a juíza diariamente se via submetida. Fica, assim, solucionado o crime: Patrícia cometeu suicídio. Foi atingida por si mesma, 21 vezes, vítima de sua caneta perdida, que se encontrava a desperdiçar tempo mandando para a cadeia milicianos e todo tipo de escória que cresce à sombra do Estado, de sua corrupção e de sua inoperância.

Patrícia era uma incompetente, uma servidora pública incapaz de fazer um ofício! Não é isso que o senhor quer dizer, Presidente?

Que vergonha, Exa.! Por que no te callas? Melhor: renuncie ao seu cargo. No mínimo será muito difícil seguir à frente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com a morte de Patrícia em suas costas. Ela está agarrada ao seu corpo e ao do seu antecessor, como uma chaga pestilenta. Sua permanência no ambiente dá asco e ânsia de vômito.

Qualquer pessoa que assistisse ao noticiário televisivo, que lesse jornal ou que tivesse acesso a algum outro veículo de imprensa nacional tinha conhecimento da situação de Patrícia e de que sua vida estava em risco. Não a Presidência do TJRJ. Segundo palavras do ex-presidente daquele órgão, seu único contato com a juíza se deu numa ocasião em que esta por ele foi chamada para prestar esclarecimentos a respeito de um entrevero que tivera com um namorado. O fato chegou às folhas e S. Exa., o então Chefe do Judiciário, se sentia no dever de agir logo, chamando às falas (sem ofício) a subordinada que colocava em xeque a imagem do Poder por ele gerido. Mas, para proteger a vida de Patrícia – ah, aí é querer muito! — era fundamental um ofício! E fico a pensar: em quantas vias? 21? As cópias deveriam ser em carbono azul ou seria possível usar um modelo vermelho sangue?

Era necessário que a magistrada juntasse ao expediente um mapa com a localização do Fórum de São Gonçalo, talvez? Ou um comprovante de residência? Atestado de bons antecedentes? Declaração dos futuros assassinos afirmando que a ameaça era real (a lista encontrada com o ‘Gordinho’ não tinha firma reconhecida, nem era autenticada, afinal).

Não tentem ler a minha mente, sem antes chamar um exorcista. Magistrados de primeira instância, uni-vos! Vossa integridade física está à mercê da fortuna. Vossa vida a depender de uma folha de papel. Vossas famílias nas mãos de mentecaptos. Marginais e milicianos em geral devem estar com a dentadura escancarada num esgar de romance policial. Bastaram duas motos, dois carros, um bando de vermes, 21 tiros e poucos segundos para derrubar o castelo de cartas que era a imagem da Justiça no Estado do Rio. Com tão pouco se revelou a podridão de um reino de faz-de-conta, o que contrasta com o quanto foi necessário para liquidar uma mulher só.

Um Poder sem força, sem visão, sem preparo; um setor do serviço público que se transformou, em verdade, numa grande empreiteira; quando não em um balcão de negócios (quebre-se o silêncio!). É inacreditável que a mais alta autoridade judicial do Estado sequer ruborize ao dizer que a proteção de uma juíza comprovadamente listada como alvo da milícia dependia de um pedido escrito. A declaração do magistrado-mor revela aos interessados em seguir matando juízes que o “Poder” por ele administrado não tem a menor ideia da realidade enfrentada pelos julgadores de primeira instância. Precisa ser provocado, cutucado, instado. O pleito de auxílio aos que dele carecem deve passar por um processo, um crivo que, como se viu, é muito eficiente, se o resultado perseguido for a eliminação daquele que precisa ser protegido. O Judiciário não realiza, por sua conta, qualquer controle, não mantém investigação permanente, não monitora seus inimigos: é um Poder-banana.

Os juízes de direito, de agora em diante, se transformaram na versão nacional do dead man walking (expressão gritada pelos guardas quando acompanham os sentenciados até o local da execução, nos presídios com corredor-da-morte, nos EUA). Os próximos serão os promotores, os delegados de polícia (os agentes penitenciários já são eliminados de há muito, assim como os jornalistas), os homens de confiança do Secretário de Segurança e este mesmo. Governador, tremei. Quem há-de impedir que isso ocorra?

A temporada de caça está aberta. A porta do Judiciário era sem trinco e agora não adianta colocá-lo. Tarde demais. Até que a Justiça se mova e organize um sistema de autodefesa pró-ativo (e não movido à base de papeluchos), muitos perderão a vida. O crime não precisa se organizar. Basta conhecer o endereço do juiz, discando 102.

Pior: doravante, será mais do que suficiente um olhar de soslaio do réu para que o juiz assine — trêmulo, mas de pronto — o alvará de soltura. Eu, no lugar de qualquer deles, assinaria. Você não? Bem-vindos à terra sem lei, sem vergonha e sem senso de ridículo.

Não se esqueçam de Patrícia Acioli!

*Siro Darlan é desembargador da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Os sonhos da humanidade e os caminhos da Igreja

De onde surge a cizânia na Igreja (Mt 13.24-43)? Onde se semeia a discórdia? Temos a paciência do tempo, aguardamos com esperança e confiança a conversão da cizânia em trigo bom para nosso povo e nossas comunidades? Lembrando Jacó, como reconheceremos que a Igreja é o lugar de Deus e porta para os “céus”, todos os céus, formas de bem-estar disponíveis desde a economia, e na participação das lutas e dos bens sociais? E, também, a partir da paz espiritual, o que se fará para alcançar dignidade, direitos humanos, cidadania, como o hebreu Mateus identificou o Reino dos Céus? Como reconheceremos na Igreja um lugar sagrado no qual se vislumbre que o reino de Deus é o lugar onde se realizam os sonhos “impossíveis” (impossible dreams) da humanidade?

Jacó, que roubara a primogenitura do irmão, consegue a bênção do pai, Isaque, após ter enganado Esaú (Gn 28.10). Jacó foge do irmão que poderia matá-lo, pelo roubo da primogenitura. O texto descreve o deslocamento de Beer-Sheva para Haran. Trata-se, como se observa na tradução dos termos, “de um lugar para outro lugar”. Logo depois, Jacó “depara-se com ‘o lugar’ e lá se deita, porque caía o sol”. A construção hebraica é inusitada: “va-ifgá ba-makon”, quer dizer: foi pego, seduzido, atraído pelo sagrado do lugar. Que lugar é esse? O texto não esclarece, o contexto não ajuda. Mas a noção do ‘lugar’ torna-se o drama concreto. Jacó não está simplesmente ‘num lugar’, mas ‘neste lugar’ (“bá makon há-hú”). É aqui que Jacó tem seu famoso sonho, no qual vê uma escada, e por ela subindo e descendo anjos.

Quando desperta, lemos: “Acordou Jacó de seu sono e disse: Certamente ‘há Deus neste lugar’ e eu não o ‘penetrava’”. André Chouraqui, teólogo judeu interessado também na exegese do Segundo Testamento, traduz o verbo “yaddá” tanto no sentido de ‘saber’ como no de ‘penetrar’. Esse entendimento bíblico da palavra ‘penetrar’ equivale a “conhecer” uma mulher penetrando-a. Uma sondagem do mundo criador, através do mergulho no útero matricial donde tudo se origina. Em seu momento de crise Jacó “penetra” no “lugar”, no útero gerador das intenções de Deus. Busca o fundamento de tudo, e encontrando-o compreende: “quão terrível é este lugar”! O lugar é nada menos que a casa de Deus, sua habitação, porta do céu.

Mas alguém já escrevera: “em Jacó também se cumpre o duplo movimento, saindo do espaço doméstico (igreja?), penetrando no interior profundo dos grandes sonhos da humanidade” (Luther King Jr., no famoso discurso “eu tenho um sonho...”, quando defendeu os direitos de todas as raças). “Bet-el” (porta do céu) é o contrário de “Bab-el” (portal dos deuses). Na Bíblia Hebraica, “Bet-el” é um centro de expansão para os quatro pontos cardeais da Terra, no olhar de Abraão: “em ti será bendita toda a tua descendência...”. Jacó, na verdade, agora, não foge do irmão. Ao contrário, caminha para Deus; quer entender as intenções do Alto (Shöekel).

A humanidade quer ir sempre atrás da vida, da felicidade, da liberdade, dos grandes sonhos. A Igreja, ao contrário, parece esquivar-se. Sonhar com justiça social, inclusão, dignidade e amplo bem-estar social, vida plena e abundante (nada comparável aos sonhos de poder, no egoísmo e ganância da religião da prosperidade!), faz parte do que anseiam homens e mulheres, onde quer que estejam. Infelizmente, quase sempre fora da Igreja. O sonho é alguma coisa que não se pode tirar de ninguém. Escravos sempre sonham a liberdade. Oprimidos pela violência das sociedades injustas; dominados culturalmente, explorados pelas estruturas de poder, sonhamos com a libertação. Na vida de fé, cristãos permanecem em situação teológica, espiritual. Não? Pois deveriam observar as intenções libertárias de Deus. Querer o “êxodo” bíblico. Sonhar com as transformações, vislumbrar as possibilidades de um mundo novo reconciliado com o projeto de Deus.

O egoísmo eclesiástico, porém, frustra os esforços para alcançar a utopia, a salvação do mundo, contaminado por projetos de poder. Cada igreja quer salvar-se a si mesma. Confiar no Espírito, como Paulo ensina, ajudar a sair do subjetivismo oportunista, individualista, para se poder encontrar realmente a plenitude de vida, que todos aspiramos, certamente. A ortodoxia doutrinária, a religião da prosperidade, estão na Igreja, e dentro de nós mesmos, confundindo jovens e maduros. Encontramo-nos deslumbrados com falsos rasgos de
networker modernity, eletrônicos, midiáticos, administrativos, terapêuticos. Há escuridão quanto à justiça social. Breve, também estaremos como as igrejas européias secularizadas. Um contínuo contratempo para a colheita da boa semente semeada (vida em comunhão, irmão!). A cizânia que cresce no meio do trigo mistura-se, mas terá de ser separada no tempo próprio. Não prevalecerá no campo de centeio.
É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010).
Motivo de Oração
Hoje é o décimo sexto dia do mês e no nosso cartão de oração está: Ore para que Deus aumente seu amor pelos irmãos.
Dedique em tempo para Orar. Se poss´vel desligue o monitor do seu computador. Ore.
Ateus
Pesquisa do IBGE revela que está aumentando o número de brasileiros sem religião. Já são 6,7% da população identificados como ateus e agnósticos, ou pessoas que criam o próprio “blend” de crenças.


Jornal de Fato